Como te vinculas?

Como te vinculas?

6 Setembro, 2023

A vinculação é a forma como nos relacionamos com o outro ou o movimento emocional que se estabelece entre duas pessoas. Quando somos bebés, a vinculação com os pais ou cuidadores é de vital importância para o crescimento e desenvolvimento em todos os seus aspetos e é aí que se estabelecem os estilos de vinculação que nos vão afetar enquanto adultos. Caso os primeiros anos tenham decorrido sem sobressaltos e com uma presença constante dos pais ou cuidadores, desenvolve-se um vínculo seguro. Se algo menos bom ocorre, desenvolvem-se estilos de vinculação inseguros.

Vários estudiosos da vinculação estabeleceram as formas como nos vinculamos e estas são hoje em dia agregadas da seguinte forma (baseado principalmente em Ainsworth e Bowlby):

  • Seguro: os pais / cuidadores tiveram uma relação consistente e permanente com o bebé. Como adultos tornam-se pessoas amigáveis, falam sobre os seus problemas com os seus parceiros e estabelecem uma relação segura. É fácil aproximarem-se dos outros e sentem uma maior satisfação nas relações do que os adultos inseguros. Sabem pedir ajuda, assumir as suas necessidades e criam relações de interdependência;
  • Evitativo: os pais foram preocupados, ausentes, negligentes ou evitativos. A criança aprende a não confiar em ninguém e a contar só consigo. Enquanto adulto é desconfortável estar dependente, confiar, manter relações. Distanciam-se e têm dificuldade em sentir o outro como figura segura e confiável e em manter relações duradouras. Aparentemente não se preocupam com as relações, mas na realidade há uma defesa muito grande para evitar a entrega e intimidade. Quando os outros se aproximam têm tendência a fugir e tendem a idealizar relações antigas por forma a sabotar relações presentes;
  • Ansioso ou ambivalente: a atenção por parte dos pais foi inconsistente, o que pode acontecer quando as mães sofreram depressão pós-parto (ou se os pais estavam deprimidos): muita funcionalidade que permite que as necessidades básicas sejam cumpridas, mas a atenção é inconstante o que faz com que a criança fique ansiosa, pois não sabe com o que contar. Há uma mãe / pai muito responsiva/o, mas que depois falha – isto cria tensão e insegurança na criança. Como adultos procuram relações, mas têm muito receio de abandono e querem manter relações de forma constante (ex. º ficam em relações tóxicas, abusivas ou codependentes). Tendem a preocupar-se se os outros os amam e podem ficar emocionalmente desregulados e afetados quando as suas necessidades de apego não são cumpridas. Como duvidam dos seus valores e tendem para uma baixa autoestima, anseiam por intimidade, mas desconfiam quando esta lhes é oferecida;
  • Desorganizado: surge quando nunca há uma resposta, o que pode acontecer em bebés institucionalizados ou com pais toxicodependentes. Em adultos desconfiam cronicamente dos outros e têm medo da proximidade. A regulação emocional é um enorme desafio, assim como entender ou manter relações. É difícil lidar com regras e autoridade e utilizam mecanismos de coping negativos como o álcool ou drogas.

E agora, estou condenada/o?

O que nos acontece nos primeiros anos é fulcral para o nosso desenvolvimento e afeta a vida adulta, mas a boa notícia é que isso não é determinante. Estes padrões originais podem ser identificados e alterados. Sim, porque de facto são padrões de funcionamento, ou seja, são repetições de acordo com certos estímulos no ambiente e que fazemos porque nos é familiar. Quando tomamos consciência, conhecemo-nos melhor e trabalhamos no nosso processo, podemos inverter o nosso estilo de vinculação e transformá-lo em relações seguras e satisfatórias.

Ao ler sobre estes estilos, tenta refletir sobre a forma como te relacionas. Com qual te identificas mais? Faz também a ponte com a tua história: o que é que te faltou lá atrás e que está a influenciar as relações de hoje? E enquanto casal, qual é o padrão de cada um e como é que isso afeta a relação?

E se vires que te faz sentido, procura ajuda profissional através de consultas de psicologia ou psicoterapia, individuais ou até mesmo de casal.

Texto de Önder Örtel emUnsplash

Bibliografia

Mikulincer, M., Shaver, P. R., & Pereg, D. (2003). Attachment theory and affect regulation: the dynamics, development, and cognitive consequences of attachment-related strategies. Motivation and Emotion, 27(2). doi: 10.1023/A:1024515519160

Paterson, R. J., & Moran, G. (1988). Attachment theory, personality development, and psychotherapy. Clinical Psychological Review, 8. 611-636

Sequeira, I. (2015). What is to love – terapia de casal e vinculação. Revista Kairus – Sociedade Portuguesa de Psicologia Clínica

Este artigo foi originalmente publicado em psicoterapiacorporal.pt

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