Etiqueta: pais e filhos

10/11/2018

Apesar de o ano letivo já ter iniciado em setembro, o retomar da rotina e do… corre-corre (!) pode demorar mais tempo para uns do que para outros.

Se parássemos para contemplar a organização de um formigueiro, por certo, nos revíamos… achando nós estarmos tão longe delas!

Mas como animais ditos desenvolvidos que somos, imposto pelas particularidades da vida ou por escolha própria, decidimos acumular todas as funções e respetivos desempenhos, vendo-nos a braços com centenas de tarefas diárias!

Um ritmo alucinante, em que cada célula do nosso corpo acaba, inevitavelmente, a sentir-se nauseada…, mas adiante…

Levanta-te!!! Já é tarde!!!

Estás a ouvir? Levanta-te!!!

Esta é a minha reza matinal todos os dias para ele se levantar, ao que o meu Martim me responde entre uma meia volta e outra: – Já vooooou!

– Oh meu Deus! Martiiiiiim!!!! Estamos atrasados!

Corro no corredor para cá e para lá e, ao mesmo tempo, enfio um braço e outro da blusa, aperto o casaco e puxo melhor as calças, até assentarem bem na cintura e alinhar as costuras…

Aparece estremunhado com o cabelo desalinhado arrastando a voz: – Booooom diaaaa!

– Despacha-te! Trouxeste as cuecas e as meias?

Entretanto, já estava no quarto do Martim, pronta para lhe levar o que faltava para se vestir… olha para a cama e ainda, num golpe de magia, puxa os lençóis para cima, atira com as almofadas para ter um ar mais apresentável e cuidado.

Volta à casa de banho, abre o frasco do creme de dia e retira com o dedo indicador uma porção que coloca de cada lado da bochecha, espalha-o pelo rosto e apanha o cabelo num carrapito prendendo-o com uma mola.

– Martiiiiiim!!! Estás proooonto?! Já te vestiste? Tomaste o pequeno-almoço? Despacha-te que estamos atrasados e não posso, uma vez mais, chegar atrasada ao trabalho!”

Apesar de ficcionado este é um excerto de um episódio que poderia ser de qualquer um de nós… ou melhor, dos primeiros dez minutos de um dia, aleatório, retirado à azafama da nossa apertada rotina de 24 horas.

Depois chega o final do dia e, com ele, aquela que é uma das conversas mais frustrantes entre pais e filhos. Regra geral, acontece no carro ou à mesa do jantar. Perguntamos “como é que foi o teu dia?” ou “como é que correu a escola?”, ao que as crianças reagem com um “correu bem”, sem desenvolverem muito mais a resposta.

Esta é uma das grandes queixas dos pais, que se sentem frustrados e ainda mais cansados de ouvir sempre o mesmo, mas será que o problema está mesmo nas crianças? Pensemos na nossa reação, quando nos fazem a mesma questão em relação ao trabalho. “Foi bom” ou “correu tudo bem” também é a nossa resposta, certo? Então, porque esperamos um comportamento diferente por parte dos nossos filhos?

Nesta questão, como em tantas outras da nossa louca rotina diária, o problema está na forma como colocamos as perguntas às crianças, que tantas vezes as sentem como impessoais.

Que tal tentarmos outras vias? Diferentes formas de abordar os assuntos com os nossos filhos? Apesar de ser difícil encontrarmos inspiração para o fazermos, no meio de tantas tarefas que acumulamos, hoje, partilhamos algumas sugestões para contornar a malfadada pergunta e conseguirmos chegar até aos nossos filhos. Pode ser que assim, pelo menos o final do dia, em família, se torne um momento mais apaziguador.

Questionar quanto aos pontos altos e baixos de cada dia:
Como são perguntas muito específicas, ajudam as crianças a articular os melhores e os piores momentos que viveram, e criam uma janela de oportunidade para, em conjunto, tentarem encontrar soluções para o que correu menos bem. Caso os pais aproveitem para falar de igual modo sobre o seu dia, também se fomenta a partilha, a escuta e a atenção recíproca.

  • Qual foi a coisa mais divertida que te aconteceu hoje?
  • Alguém fez algo muito querido por ti ou qual foi a coisa mais querida que fizeste por alguém hoje?
  • Quem é que te fez sorrir hoje?
  • Quem é que se portou mal contigo?
  • O que é que aprendeste hoje nas aulas e qual foi a aula que achaste mais difícil?
  • Houve alguma regra da professora que tenhas sentido dificuldade em respeitar?
  • Qual foi o momento em que te sentiste mais orgulhoso de ti hoje?
  • Numa escala de 1 a 10, como é que classificas o teu dia? Porquê?

Questões que estimulem a curiosidade e o interesse:
Às vezes, fazer apenas uma destas perguntas, que demonstrem interesse pelas particularidades da vida dos filhos, já quebra o silêncio e ajuda a estimular o diálogo. Interesse-se, realmente, por quem o rodeia, com quem se identifica, quem são os amigos mais próximos: entre na sua realidade, conheça-a, pergunte e ouça a resposta. Podemos aproveitar para estimular a curiosidade das crianças, deixando-as perguntar tópicos semelhantes sobre nós ou do nosso.

  • O que almoçaste? Estava bom?
  • Qual dos teus professores era mais capaz de sobreviver a uma invasão de extraterrestres? Porquê?
  • Há algum colega de quem gostasses de ser amigo, mas ainda não és? Porquê?
  • Sentiste que havia algum colega mais triste hoje?
  • O que ensinarias aos teus colegas, se pudesses ser tu o professor amanhã?
  • Se um dos teus colegas fosse professor, em qual votarias para ser escolhido? Porquê?
  • Estás a trabalhar nalgum projeto na aula que tiveste hoje de música/EVT? Qual?
  • Se tivesses uma máquina do tempo para andar para trás no tempo, mudavas alguma coisa no teu dia de hoje?
  • Qual é o teu colega mais divertido? E o mais chato?
  • Quem é a auxiliar mais querida e o professor de que mais gostas?

Estes são apenas alguns exemplos para mudar a estratégia de abordagem deste assunto com os filhos. Que tal fazer o mesmo exercício para as outras questões do dia-a-dia?!

Fica a sugestão!

Cristina Santos

17/02/2017

Uma das formas de ensinar…

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