Era uma vez uma ostra que vivia no fundo dum mar lamacento e escuro.
Era difícil chegar-lhe a luz do sol, a claridade da água e a quentura das correntes.
Vivia na escuridão, no silêncio e no frio…
Os anos foram passando e a ostra fazia o mínimo para sobreviver.
Certo dia a ostra sentiu-se vacilar e soltar-se dos limos onde tinha vivido.
Veio uma violenta corrente, quente, poderosa, luminosa e arrastou-a para outras águas.
De início sentiu-se perdida, sem saber para onde ía… até que parou numa superfície macia, quente, translúcida e bela.
Onde estou?
Que lugar é este?
Nunca imaginei que existisse um lugar assim… será que morri?
A pouco e pouco foi-se abrindo, cada dia mais, até que sentiu um pequeno grão de areia, que naquele turbilhão, tinha entrado na sua concha.
Todos os dias o acariciava e beijava, falando-lhe de como se sentia feliz nesta nova vida.
Tinha luz, calor, transparência, alimento e o grão de areia ouvia-a atentamente e de dia para dia ia cescendo.
Uma bela manhã a ostra olhou para o grão de areia e viu que ele se tranformara na mais bela pérola que alguma vez vira.
Sentiu que por mais difícil e triste a vida tem sempre algo de precioso escondido, o que importa é ser capaz de se deixar levar pela corrente, sem medos, porque da escuridão e do lodo pode surgir a mais bela pérola do Oceano.
Leonor Braga