O Corpo sem Alma
- Category Alma
O corpo era grande desajeitado, descoordenado, desgovernado, desnorteado, desengonçado, desmembrado, desalmado…
Seguia na sombra, na penumbra, oculto por entre os esconsos, os becos…
Entrava em tocas, buracos negros que o sugavam para o fundo. Até ao centro da terra.
Lá, bem no fundo, onde tudo era escuridão, solidão e desnorte, estava ele.
Não via, não ouvia, não cheirava, não tocava, não saboreava, não sentia….
O Corpo era uma massa perdida e informe.
Apenas conseguia pensar…
Mas não sabia o que pensar, como pensar ou para que lhe servia pensar…
Pensou então, que estaria ele, O Corpo, a fazer no centro da terra?
Porquê?
Para quê?
Começou letamente a tentar organizar o pensamento, mas tudo se desvanecia e transformava em névoa que desaparecia à sua volta.
A escuridão, que apenas pressentia, começou levemente a clarear, o silêncio, que só até ali conhecia, começou a marulhar, do ar parado nasceu uma suavíssima brisa, algo etéreo e doce invadiu O Corpo e começou a talhá-lo.
Tal escultor excitado e vibrante com a sua obra, o trabalho da Alma começara.
A pouco e pouco os sentidos iniciaram o seu despertar, pela fenda da terra Mãe uma luz resplandescente elevou o Corpo para a terra.
Uma força enorme puxou-o e finalmente ele viu a luz,os aromas, saboreou o sangue, ouviu a voz da mãe, e sentiu umas mãos quentes e doces em contacto com a sua pele.
Finalmente o Corpo tinha Alma!
Leonor Braga