O alívio da dor

30/10/2019

Nem sempre pensamos neste assunto desta forma, mas o alívio da dor é um direito humano fundamental, seja em que idade for. Obviamente, as crianças também sentem dor, no entanto, como nem sempre sabem exprimir o que as aflige, é preciso redobrar a atenção para garantir que o direito a terem os melhores cuidados lhes seja totalmente assegurado. É vital reconhecer, avaliar, prevenir e tratar a dor da criança, seja por razões físicas ou, até mesmo, psicológicas.

Existe um hábito generalizado de tratar a dor com foco nas medidas farmacológicas. No entanto, estas medidas deveriam ser complementadas, também, com intervenções não farmacológicas, integrativas e de suporte, de modo a prevenir, tratar ou minimizar a dor, de acordo com a sua origem.

Ação sinérgica

O conceito de analgesia multimodal encara o tratamento da dor através da ação de vários agentes, intervenções, reabilitação e terapias que atuam de forma sinérgica para o controlo da dor, o que permite, obviamente, um tratamento mais eficaz e com menos efeitos colaterais, do que apenas com um analgésico ou uma modalidade terapêutica. Deste modo, recorre a intervenções não farmacológicas e farmacológicas para o alívio da dor.

Tratamentos não farmacológicos

As intervenções não farmacológicas são eficazes em situações de dor ligeira, em procedimentos dolorosos rápidos ou em casos de transtornos emocionais e psíquicos. Podem utilizar-se como complemento ao tratamento farmacológico e, também, como forma de estabilizar o bem-estar emocional da criança.

Neste tipo de estratégias para o controlo da dor, é crucial o envolvimento e participação da família, em colaboração com os técnicos de saúde. A presença dos pais é, realmente, muito importante para tranquilizar, distrair, encorajar e consolar a criança. Podem ainda, também, colaborar de uma forma mais ativa, aplicando algumas estratégias psicológicas, como:

Distração: permite à criança desviar a atenção do estímulo doloroso, em direção a uma estímulo alternativo e agradável. Considerar os interesses e escolhas das crianças e usar técnicas de distração multisensoriais interativas são estratégias que podem funcionar melhor. Neste processo, pode-se utilizar música, livros, bonecos, desenhos animados, jogos, bonecos, bolas de sabão, histórias, moinhos de veto, cantigas, contar de trás para a frente ou brinquedos – preferencialmente interativos, com som, luz ou vibração – entre outros recursos.

Estimular a imaginação: Levar a criança a imaginar, por exemplo, que está a viajar pelo seu local favorito ou a fazer a atividade que mais gosta, histórias com super-heróis, que lhe transmitam estímulos positivos.

Informação preparatória: É importantíssimo preparar a criança, de modo adequado à sua idade, explicando-lhe o que se vai passar durante o procedimento, caso a sua saúde assim o necessite.

Nestes processos, a ajuda de um psicólogo ou psicoterapeuta é crucial, tanto no apoio à família, como para a própria criança. Estes profissionais podem ser extremamente úteis na aquisição de estratégias para lidar com a dor e com o desgaste emocional e psicológico consequente, sabendo, também, como aplicar ou orientar para os seguintes tratamentos não farmacológicos:

Técnicas de relaxamento: Induzem ao relaxamento muscular progressivo, através de respiração profunda, ou seja, diafragmática ou abdominal. Nas crianças mais pequenas, para uma maior eficácia, pode-se usar bolas de sabão, moinhos de vento ou, simplesmente, fazê-las imaginar que estão a soprar um balão ou uma vela.

Hipnose clínica: Pode ser utilizada para alívio da dor aguda e crónica, através de exercícios como a luva mágica, o lugar favorito ou o interruptor da dor.

Reforço positivo e premiação: Inclui a atribuição de prémios e diplomas.

Tratamento farmacológico da dor

A seleção do fármaco analgésico mais adequado é fulcral para o resultado do tratamento. Depende das características de cada criança, da sua doença e da avaliação da intensidade da dor e devem, sempre, estar associados a intervenções não farmacológicas.

Para uma correta administração dos analgésicos, existem alguns princípios básicos:

  • Escolher os fármacos de acordo com a intensidade da dor.
  • Administrar os fármacos através da via menos invasiva possível, preferencialmente, por via oral.
  • Administrar os fármacos, sempre, num horário regular.

Segundo a escada analgésica da Organização Mundial de Saúde, de 2012, os fármacos mais utilizados para dor ligeira são o Paracetamol e os Anti-inflamatórios não esteróides e, para a dor moderada a intensa, os Opioides.

Qualquer que seja a estratégia multidisciplinar encontrada para o alívio da dor das crianças, o mais importante é terem o acompanhamento, articulado, de profissionais de saúde de diferentes áreas, sem nunca colocar em segundo plano a saúde mental, nem subestimar a importância do apoio da família para a sua recuperação.

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