Hoje, no blogue da Sintricare, publicamos na íntegra o artigo de opinião publicado no site do Público, “A psicoterapia e as outras terapias”, da autoria da psicóloga clínica e autora do blogue Agir e Sentir, Isabel Filipe, que enfatiza a importância da psicoterapia para o nosso bem-estar e crescimento pessoal. Como a própria afirma “estarmos bem é um trabalho a tempo inteiro, que exige uma multiplicidade de instrumentos”. Tirem uns minutos e aproveitem para ler!
“A psicoterapia é valiosa e construtiva, não se tratando de uma simples conversa ou mezinha. O nosso crescimento pessoal não é proporcional às conversas de café ou de cabeleireiro.
A psicoterapia é uma forma extraordinária de termos um espaço nosso, privado, tranquilo, seguro. É o sítio certo para ventilar o stress quotidiano, libertando-nos para tempo de qualidade com amigos e família ou para usufruirmos bem da nossa própria companhia. Acima de tudo, é uma fenomenal forma de aprendermos mais sobre nós próprios, compreendendo o nosso percurso e tendo orientação para desenvolver competências pessoais que nos levem ao melhor de nós.
O que há para não gostar? O preço. A intensidade emocional. A lentidão do processo. Tudo isto seria pertinente, se a nossa saúde mental não fosse a espinha dorsal do nosso bem-estar. Mas é-o. O melhor esforço que podemos fazer por nós e pelas pessoas a quem queremos bem é cuidar de nós próprios. A terapia permite-nos isso, pese o facto de não ser uma solução mágica. Embora possa ser pautada por momentos densos e complexos, o evoluir desta parceria com um psicólogo é algo de muito compensador. Se a pessoa a quem vamos confiar a nossa intimidade nos recordar de um colega de trabalho que não apreciamos, é evidente que não iremos longe. Importa existir empatia, uma química saudável, construtiva e enriquecedora. A confiança terapêutica no nosso terapeuta permite, em conjunto, trilhar um percurso bem-sucedido.
Diz-me a literatura e a experiência clínica, que os millennials priorizam, sem pudores, a saúde mental, física e espiritual, de uma forma mais veemente do que qualquer outra. Bem-estar constante e prazer imediato são impulsionadores da procura de suporte, em duas frentes importantes.
Por um lado, há quem recorra a alternativas mais “rápidas” e “de solução imediata”, como terapias alternativas, apoio espiritual ou mesmo procura de respostas em livros ou vídeos motivacionais, cada vez com mais destaque nas montras de consumo. Embora estes recursos possam estimular ferramentas interessantes, investirmos apenas e consecutivamente nestas orientações externalizadas, sem tempo para reflectir ou responsabilizar-se, encontrando respostas que façam sentido, pode não ser salutar. Nestes casos, a psicoterapia pode representar uma enorme mais-valia, permitindo personalizar esta aquisição de material cognitivo.
Por outro lado, há quem, com facilidade e muito cedo na sua fase adulta, inicie consultas de Psicologia, procurando conhecer-se melhor, optimizar competências pessoais e compreender o seu comportamento. Acredito que a segunda opção é mais duradoura e eficiente, embora mais morosa e dispendiosa. Contudo, a nossa saúde mental é uma prioridade, um dos pilares mais significativos da nossa edificação pessoal, compensa todo o investimento.
Não desconsidero as terapias e opções alternativas, podem ser um suporte útil e uma fonte de riqueza espiritual. Da complementaridade entre estas a Psicologia pode surgir uma sinergia interessante, cada uma com as suas especificidades bem definidas, sendo fulcral estarem presentes critérios como profissionalismo, boa formação e devida competência, de todos os profissionais envolvidos.
Ser adulto é um desafio, pelo que obter um conjunto de factores protectores, mediante as crenças e valores pessoais, apenas pode apresentar um cunho positivo. A psicoterapia é valiosa e construtiva, não se tratando de uma simples conversa ou mezinha. O nosso crescimento pessoal não é proporcional às conversas de café ou de cabeleireiro. Estarmos bem é um trabalho a tempo inteiro, que exige uma multiplicidade de instrumentos. O mais importante é usá-los com inteligência e empenho.
Isabel Filipe, Psicóloga clínica e autora do blogue Agir e Sentir
No artigo de opinião publicado no site da revista Sábado, Sofia Ramalho, Vice-Presidente da Ordem dos Psicólogos Portugueses defende que a ciência psicológica ocupará “as agendas humana, sociopolítica e económica” e será a profissão para o século XXI. Para que percebam as razões por detrás desta afirmações, reproduzimos aqui, no blog da Sintricare, este artigo na íntegra.
“A sociedade afigura-se cada vez mais assoberbada de frenesim, de horas infindáveis de trabalho e altos índices de stress, de telemóveis ou outros aparelhos eletrónicos ligados à corrente humana 24 sobre 24 horas, comportamentos que se vão transformando em hábitos tóxicos, crónicos e inconscientes, a par com profundas alterações sociais, situações de pobreza e de degradação humana, alterações ambientais e catástrofes pelo mundo fora. Ao mesmo tempo o ser humano e a sociedade compadecem-se com uma carência existencial e de tempo, de humanismo, de relações saudáveis e de afetos.
Creio, ainda assim, que estas circunstâncias não determinam tudo. A capacidade de ajustamento do ser humano às mudanças e aos desafios, em resistir às intempéries sociais e emocionais, a capacidade de recuperação face às adversidades ou a situações traumáticas são importantíssimos, e a ajuda psicológica pode tornar-se reguladora, capacitante e transformadora. Afinal, para grandes problemas, nem sempre são necessárias grandes soluções e a Psicologia, com pequenas ações de intencionalidade sistemática, é um bom exemplo disso mesmo e constitui um excelente instrumento de intervenção pessoal ou numa população. Creio ser um dos melhores investimentos pessoais ou sociopolíticos de todas as gerações.
A ciência psicológica ocupa e ocupará as agendas humana, sociopolítica e económica e protagoniza a profissão para o século XXI. Nela se encontrarão as soluções para o custo físico, psicológico e económico da doença. Nela se encontrarão as soluções para o custo de décadas de falta de escolarização, (des)educação, (de)formação e (des)envolvimento de competências que não puderam ser colocadas ao serviço da produtividade no trabalho, da participação cívica e da própria governação. Nela se encontrarão as soluções para o bem-estar, para a satisfação com a vida familiar ou social, para retomar a confiança nas relações interpessoais e nas instituições e demais entidades que servem a sociedade. Nela se encontrarão as soluções para o profundo desenvolvimento humano e da sociedade. A Psicologia, enquanto ciência para o século XXI, está cada vez mais focada em investigar as variáveis psicológicas subjacentes aos comportamentos, ajudando as pessoas a fazer escolhas que promovam o bem-estar e a sua saúde nos seus diferentes contextos de vida.
São estes mesmos comportamentos individuais (e os seus desvios) que determinam frequentemente os comportamentos sociais e afetam toda uma economia, política e sociedade. Mas são também estes mesmos comportamentos individuais ou sociais, para os quais a ciência psicológica propõe metodologias de mudança, que aplicados na prática aos diferentes fenómenos económicos, políticos e societais, são capazes de produzir as ditas soluções micro para problemas macro.”
1. Menos é mais!
Simplificar. Torna-a a tua palavra de ordem, nos pensamentos, nas tuas ações, mas também nas emoções. Quando estamos habituados a ter os mesmos pensamentos é difícil larga-los, pois é tudo muito automático. Então, quando começa o novelo da complicação na tua cabeça, torna-te no/a realizador/a do teu filme e diz corta! Transforma as frases feitas e velhas crenças e decide simplificar. Leva esse mote para as tuas ações: o que é que é demais? E como pode a emoção acompanhar tudo isto e ajudar-te a arrumar a tua casa interna?
2. Um aqui e agora suficientezinho
Estar no aqui e agora é fundamental. No entanto e como em tudo, é preciso conta, peso e medida. O que faz sentido para mim é trabalhar na possibilidade de estar aqui e agora, mas sem renegar o passado, e mantendo abertura e planos para o futuro. O passado existe, embora não o possamos mudar. Ainda assim podemos mudar a forma como olhamos para ele, desde aqui, do presente. Então, não renegues o que te aconteceu até aqui, trabalha com isso. E estar no agora sem olhar para o futuro pode ser tão errado como estar sempre na ansiedade do que aí vem. É importante fazer planos, ter objetivos!
3. Respira…!
Claro que respiras, senão não estarias a ler isto neste momento… Mas será que respiras plena e profundamente? A respiração superficial pode ser uma defesa para não entrares em contacto com as tuas emoções. Num percurso de autoconhecimento e de desenvolvimento pessoal, é importante fazer essa reconexão com o corpo através da respiração. E a respiração é também uma ferramenta para lidar com a impulsividade. Uma inspiração profunda dá-te tempo e espaço para poderes reagir de forma diferente. Experimenta!
4. Entregar e confiar
Este é um mantra desafiante. É difícil confiar na vida quando somos muito rígidos, controladores ou por colecionarmos uma série de más experiências. A vida “disse-te”: não confies, conta só contigo, movimenta-te no que é confortável para ti. E ao longo do tempo, acreditas nisso e crias essa realidade. Mas é possível criar uma realidade diferente, passo a passo. E começa por entregar e confiar que a vida te vai dar o que tu precisas (mas não aquilo que queres…). E isto não é ter a expetativa que algo vai mudar, é criares dentro de ti a base para que ocorram pequenos novos movimentos de abertura que permitam receber algo novo! E com novas experiências, seguras, talvez seja possível dares esse passo (que internamente queres dar há tanto tempo…!).
5. Autocompaixão
A autocompaixão é uma palavra e um conceito que me faz muito sentido. Para mim engloba a autoestima, amor próprio, autoimagem… E é diretamente afetada pela autoexigência e autocrítica. Vejo-a como uma balança: se pende para a crítica e exigência, então não há lugar para a autocompaixão. Se estás bem contigo, cuidas de ti interna e externamente, então há uma sensação de bem-estar contigo, de serenidade. Cultivar a autocompaixão é cultivar a relação contigo. Semear o autocuidado, proteger contra a chuva da autocrítica, as pragas da exigência e adubar com muita nutrição.
6. Autorresponsabilidade
Tomar as rédeas da tua história exige que sejas responsável pela tua vida. Se colocares a responsabilidade da tua história em algo externo a ti ou em alguém, estás a despojar-te do teu poder e estás a despedir-te da função de agir sobre a tua vida. Não te despeças e faz um contrato efetivo e sem termo: a vida é tua! Sim, existem coisas que não controlamos, mas não é sobre isso que te falo aqui. A todo o momento tomas decisões, decide então ser a/o CEO da tua vida. Cuida de ti e transforma-te, sem a expetativa de que o outro mude e sem o responsabilizares por aquilo que é o teu trabalho.
7. Decide não decidir
Pode perecer um pouco louca, mas é uma frase que ajuda, num determinado momento, não só a não tomares decisões de impulso, como em dares tempo ao processo de tomada de decisão. Claro que decidirás, mas por um instante, aquieta a tua mente e decide não decidir, por um momento que seja. E deixa-te usufruir da possibilidade de não “teres de”. Respira, inclui leveza e decide mais à frente (mas sem protelar).
Ana Caeiro, Psicoterapeuta Corporal em Biossíntese.
Março é o mês do Carnaval!
Reza a história que estas festividades começaram com os gregos, como uma festa pagã e que foi posteriormente anexada às festividades da Igreja Católica. Celebrando-se sempre a uma terça-feira, 47 dias antes do Domingo de Páscoa, era o momento de celebrar e de usar uma máscara, antes dos períodos de jejum e privação da Páscoa.
Apesar de encontrarmos diferenças entre países e até mesmo entre regiões dentro do nosso próprio país, o Carnaval está associado à diversão e ao disfarce. Miúdos e graúdos desfilam pelas ruas, divertidos, podendo ser, por um dia, uma personagem diferente.
E nós?
E nós, no dia-a-dia, seremos também personagens? Usaremos máscaras quando lidamos com os outros ou até mesmo connosco? De facto, quando, no nosso crescimento e desenvolvimento, lidamos com situações difíceis, criamos estratégias que nos permitam ultrapassar momentos mais dolorosos. Ao criarmos essas estratégias, vamos construindo uma máscara com a qual contactamos com o mundo lá fora, que num dado momento nos falhou ou magoou.
No processo terapêutico ou de desenvolvimento pessoal, é muito importante identificarmos esses movimentos, respondendo a questões como:
– O que foi difícil para mim, durante o meu crescimento? Como lidei com isso? Que estratégias encontrei para ultrapassar situações dolorosas? Como compus a minha máscara? Ela ainda é útil hoje?
As nossas estratégias ou máscaras são fundamentais. De facto, elas permitem-nos lidar com o sofrimento, mesmo que seja a simples negação da sua existência, por exemplo! No entanto, quando estamos nos desafios da vida adulta, estas respostas já não se coadunam com o que a vida nos pede. E aí respondemos às novas questões com movimento velhos, que já não servem. Isto causa desconforto, desconsolo, ansiedade…
Por isso é tão importante o autoconhecimento! Como podemos nós, através de um melhor conhecimento do nosso processo, da nossa história, revisitar a dor, transformá-la e encontrar um caminho novo!
Bom Carnaval!
Ana Caeiro, Psicoterapeuta Corporal em Biossíntese
Ao receber esta publicidade do IKEA enviada por uma amiga… bateu-me cá dentro e pensei que era altura de falar um pouco daquilo que vou verificando na minha prática profissional e pessoal…
Vejo tantos artigos e estudos sobre o uso das tecnologias e o que de nefasto elas nos trazem independentemente da idade. Como parar este flagelo?
Pois… não vamos voltar atrás no tempo (pelo menos nesta era que vivemos), não acho que o uso seja um problema, mas como em tudo na vida, o abuso seja lá do que for (até o de estudar muito, ler muito, comer muito, beber muito, dormir muito…) é prejudicial ao nosso equilíbrio e desenvolvimento saudável!
Temos que dosear tudo na vida!
Tenho ouvido, muito mais agora, da boca dos jovens que “os meus pais não me conhecem” e tenho verificado que os filhos não conhecem as suas raízes, a sua história, as suas origens…
Não podemos continuar a argumentar que é a adolescência, ou a falta de interesse, ou a vida de hoje…
Façam um compromisso para convosco, reduzam o tempo que dedicam às tecnologias, não é proibir, não é deixar de todo, não são necessárias medidas radicais, mas é tão-somente dosear, negociar, dar o exemplo… ter algum equilíbrio!
As relações familiares vão refletir esta nova atitude … Use mas não Abuse!!!
Cristina Santos, Psicóloga e Responsável Técnica da Sintricare.
Quantas vezes pensamos que não estamos preparados para determinadas etapas ou fases da nossa Vida? Quantas vezes sentimos que andamos às apalpadelas, no escuro, em relação a vários temas? Genericamente, a resposta é: muitas. Alguns de nós estão na penumbra no campo das emoções, outros na relação com o outro, e outros mesmo na relação consigo. Somos todos diferentes, e por isso existem diferentes “desconhecimentos”.
A maturidade permite acender algumas luzes, a par da experiência e da vontade de continuar a encontrar algum interruptor. Mas o que corre menos bem é geralmente encoberto pelo manto da estratégia, algo a que nos socorremos quando estamos em sofrimento e que serve para afastar essa dor. Esse manto, ou máscara, é fundamental para fazer face aos vários desafios da vida, mas de facto, quando se torna numa segunda pele, não nos permite viver plenamente.
Assim seguimos na vida, muitas vezes sem saber o que está ao virar da próxima esquina. É como se fossemos caminhando no mundo, mas sem um mapa efetivo, um croqui que nos dê pelo menos uma ideia aproximada dos sítios que queremos visitar ou os locais onde queremos chegar. A grande dificuldade dos croquis, é que geralmente são desenhados por outros, não servem.
Os mapas, são concebidos nas alturas. E nós estamos no terreno, sem mapa, a calcorrear ruas e vielas, à procura de uma saída.
Quando somos pequeninos, vamos de mão dada com alguém. E mesmo que nos levem aos trambolhões, lá vamos indo. Quando nos largam a mão e ficamos sozinhos no mundo, sozinhos nas nossas decisões, temos de contar com a nossa bússola interna. O desafio é calibrá-la. A experiência é efetiva na utilização de uma bússola, mas é o autoconhecimento que afina esta ferramenta. Claro que a experiência desagua no autoconhecimento e vice-versa. Mas sem nos conhecermos a nós, sem conhecermos as peças que compõem esta bússola, não nos conseguimos fazer à estrada. Melhor: conseguimos, mas se a bússola não funciona, para onde estamos a ir? E se ficarmos parados no mesmo lugar no medo de nos perdemos, onde é que não estamos a chegar?
Ana Caeiro, Psicoterapeuta Corporal em Biossíntese.
Apesar de o ano letivo já ter iniciado em setembro, o retomar da rotina e do… corre-corre (!) pode demorar mais tempo para uns do que para outros.
Se parássemos para contemplar a organização de um formigueiro, por certo, nos revíamos… achando nós estarmos tão longe delas!
Mas como animais ditos desenvolvidos que somos, imposto pelas particularidades da vida ou por escolha própria, decidimos acumular todas as funções e respetivos desempenhos, vendo-nos a braços com centenas de tarefas diárias!
Um ritmo alucinante, em que cada célula do nosso corpo acaba, inevitavelmente, a sentir-se nauseada…, mas adiante…
“Levanta-te!!! Já é tarde!!!
Estás a ouvir? Levanta-te!!!
Esta é a minha reza matinal todos os dias para ele se levantar, ao que o meu Martim me responde entre uma meia volta e outra: – Já vooooou!
– Oh meu Deus! Martiiiiiim!!!! Estamos atrasados!
Corro no corredor para cá e para lá e, ao mesmo tempo, enfio um braço e outro da blusa, aperto o casaco e puxo melhor as calças, até assentarem bem na cintura e alinhar as costuras…
Aparece estremunhado com o cabelo desalinhado arrastando a voz: – Booooom diaaaa!
– Despacha-te! Trouxeste as cuecas e as meias?
Entretanto, já estava no quarto do Martim, pronta para lhe levar o que faltava para se vestir… olha para a cama e ainda, num golpe de magia, puxa os lençóis para cima, atira com as almofadas para ter um ar mais apresentável e cuidado.
Volta à casa de banho, abre o frasco do creme de dia e retira com o dedo indicador uma porção que coloca de cada lado da bochecha, espalha-o pelo rosto e apanha o cabelo num carrapito prendendo-o com uma mola.
– Martiiiiiim!!! Estás proooonto?! Já te vestiste? Tomaste o pequeno-almoço? Despacha-te que estamos atrasados e não posso, uma vez mais, chegar atrasada ao trabalho!”
Apesar de ficcionado este é um excerto de um episódio que poderia ser de qualquer um de nós… ou melhor, dos primeiros dez minutos de um dia, aleatório, retirado à azafama da nossa apertada rotina de 24 horas.
Depois chega o final do dia e, com ele, aquela que é uma das conversas mais frustrantes entre pais e filhos. Regra geral, acontece no carro ou à mesa do jantar. Perguntamos “como é que foi o teu dia?” ou “como é que correu a escola?”, ao que as crianças reagem com um “correu bem”, sem desenvolverem muito mais a resposta.
Esta é uma das grandes queixas dos pais, que se sentem frustrados e ainda mais cansados de ouvir sempre o mesmo, mas será que o problema está mesmo nas crianças? Pensemos na nossa reação, quando nos fazem a mesma questão em relação ao trabalho. “Foi bom” ou “correu tudo bem” também é a nossa resposta, certo? Então, porque esperamos um comportamento diferente por parte dos nossos filhos?
Nesta questão, como em tantas outras da nossa louca rotina diária, o problema está na forma como colocamos as perguntas às crianças, que tantas vezes as sentem como impessoais.
Que tal tentarmos outras vias? Diferentes formas de abordar os assuntos com os nossos filhos? Apesar de ser difícil encontrarmos inspiração para o fazermos, no meio de tantas tarefas que acumulamos, hoje, partilhamos algumas sugestões para contornar a malfadada pergunta e conseguirmos chegar até aos nossos filhos. Pode ser que assim, pelo menos o final do dia, em família, se torne um momento mais apaziguador.
Questionar quanto aos pontos altos e baixos de cada dia:
Como são perguntas muito específicas, ajudam as crianças a articular os melhores e os piores momentos que viveram, e criam uma janela de oportunidade para, em conjunto, tentarem encontrar soluções para o que correu menos bem. Caso os pais aproveitem para falar de igual modo sobre o seu dia, também se fomenta a partilha, a escuta e a atenção recíproca.
- Qual foi a coisa mais divertida que te aconteceu hoje?
- Alguém fez algo muito querido por ti ou qual foi a coisa mais querida que fizeste por alguém hoje?
- Quem é que te fez sorrir hoje?
- Quem é que se portou mal contigo?
- O que é que aprendeste hoje nas aulas e qual foi a aula que achaste mais difícil?
- Houve alguma regra da professora que tenhas sentido dificuldade em respeitar?
- Qual foi o momento em que te sentiste mais orgulhoso de ti hoje?
- Numa escala de 1 a 10, como é que classificas o teu dia? Porquê?
Questões que estimulem a curiosidade e o interesse:
Às vezes, fazer apenas uma destas perguntas, que demonstrem interesse pelas particularidades da vida dos filhos, já quebra o silêncio e ajuda a estimular o diálogo. Interesse-se, realmente, por quem o rodeia, com quem se identifica, quem são os amigos mais próximos: entre na sua realidade, conheça-a, pergunte e ouça a resposta. Podemos aproveitar para estimular a curiosidade das crianças, deixando-as perguntar tópicos semelhantes sobre nós ou do nosso.
- O que almoçaste? Estava bom?
- Qual dos teus professores era mais capaz de sobreviver a uma invasão de extraterrestres? Porquê?
- Há algum colega de quem gostasses de ser amigo, mas ainda não és? Porquê?
- Sentiste que havia algum colega mais triste hoje?
- O que ensinarias aos teus colegas, se pudesses ser tu o professor amanhã?
- Se um dos teus colegas fosse professor, em qual votarias para ser escolhido? Porquê?
- Estás a trabalhar nalgum projeto na aula que tiveste hoje de música/EVT? Qual?
- Se tivesses uma máquina do tempo para andar para trás no tempo, mudavas alguma coisa no teu dia de hoje?
- Qual é o teu colega mais divertido? E o mais chato?
- Quem é a auxiliar mais querida e o professor de que mais gostas?
Estes são apenas alguns exemplos para mudar a estratégia de abordagem deste assunto com os filhos. Que tal fazer o mesmo exercício para as outras questões do dia-a-dia?!
Fica a sugestão!
Existem momentos na vida em que nos sentimos presos. Presos a pensamentos, emoções, relações, hábitos, memórias, história, crenças… O que te prende, a ti? O que te amarra e te impede de fluir na vida?
Conhecermo-nos melhor e identificar onde nos dói é fundamental num processo de evolução pessoal. Mas não só é difícil como é doloroso. Olhar para dentro de nós é o caminho natural quando queremos estar de bem com a vida e numa boa relação connosco. A grande questão é que, quando o fazemos, encontramos o bom e o mau. Visitamos as qualidades, encontramos os dilemas e tropeçamos nos traumas. Olhamos os antepassados, os que se cruzaram e deixaram marca na nossa vida, as aventuras positivas e os esqueletos no armário. Cheira a mofo e cheira a flores. Cheira à liberdade da infância e ao jugo das prisões mentais, as nossas e as dos outros.
Então, como soltar amarras? Vamos estabelecer algumas bases:
- É importante perceber que somos todos diferentes. Se o vizinho do lado tem problemas com a mãe, não significa que nós temos. E mesmo que tenhamos ambos problemas com a mãe, serão certamente diferentes, porque somos diferentes, temos histórias diferentes e encontraremos recursos e ferramentas diferentes para lidar com esse desafio.
- Então, quem somos? Podemos levar a vida toda nesta questão, mas trabalhar na nossa história, memórias, família… É fundamental. E é a base do trabalho de desenvolvimento pessoal. Como podemos nos desenvolver se não sabemos quem somos?
- Para trabalharmos sobre algo, temos de identificar o que queremos trabalhar. Neste caso, o que é que nos prende? Quais são as amarras que queremos libertar? Poderão ser várias coisas, em diferentes graus. Então, o que quero trabalhar agora? Para o que é que é possível olhar agora? Mergulhar em tudo ao mesmo tempo pode ser um grave erro! Quando é demais, é fácil sentirmo-nos inundados e é mais difícil de nos mantermos à tona…
- Por fim, o que é que nos pode ajudar? A par do melhor conhecimento sobre mim mesmo, o que é que eu tenho a nível de ferramentas, qualidades ou capacidades, que me possam ajudar em determinada situação ou a desatar determinado nó?
- Dispam-se de expetativas: não coloquem prazos, não exijam demasiado, nem de vocês, nem dos outros.
- Menos é mais: às vezes simplificar é o caminho mais difícil, por mais estranho que pareça, mas é claramente uma via que transmite mais clareza e que nos permite ver com calma os caminhos que podemos percorrer.
Simples? Não. É difícil. É duro. Não é por acaso que se diz que a ignorância é uma bênção: iniciar o processo de desenvolvimento pessoal não tem volta a dar, não dá para voltar para trás. E tem tanto de doloroso, como de mágico. Vamos então escolher acreditar neste processo mágico, e desatar nós!
O Dia Mundial da Saúde Mental celebra-se, todos os anos, a 10 de Outubro, sendo este, “um importante momento de reflexão e de análise no que às questões na saúde mental em Portugal dizem respeito”, como se pode ler no artigo que a Ordem dos Psicólogos Portugueses publicou no seu site para assinalar esta data.
A par de algumas ilações importantes, a ter em conta a propósito do Programa Nacional de Saúde Mental criado há dez anos, podem ler-se também alguns indicadores numéricos que a Sintricare considera relevantes destacar:
- Um em cada quatro portugueses sofre de um problema de saúde mental, o que representa 23% da população, de acordo com o primeiro estudo epidemiológico de Saúde Mental realizado em Portugal.
- O número de portugueses (entre os inscritos nos centros de saúde) com depressões aumentou 43%, em apenas 6 anos, logo, quase metade dos cidadãos já teve uma perturbação mental durante a sua vida. Em 2011, a taxa era de 6,85%, sendo 9,8% em 2017. Isto significa que, atualmente, o nosso país é o segundo da Europa com maior prevalência de doenças mentais na população, com um valor quase idêntico ao da Irlanda do Norte, que ocupa o primeiro lugar deste ranking.
- As perturbações depressivas, em 2016, foram a terceira principal doença causadora de morbilidade em Portugal nas mulheres, e a quarta nos homens, contribuindo para cerca dos 70% dos mil suicídios (3 por dia) aproximados que ocorrem em Portugal.
- A perturbação de ansiedade afeta cerca de 4,9% da população, ou seja, meio milhão de portugueses.
- 30 milhões de embalagens de psicofármacos foram prescritas em 2016.
- 29.631.192 de embalagens de ansiolíticos, sedativos, hipnóticos, antipsicóticos e antidepressores foram no mesmo ano, representando o dobro do número registado em 2013 (15.048.043 embalagens).
- Mais de 600 mil euros foram gastos pelos portugueses, por dia, em psicofármacos.
- Registou-se uma aumento na ordem de 112% nas embalagens prescritas de antidepressores (5.556.092 em 2013 para 11.795.898 em 2016), e de 68% na dose diária definida (263.414.234 em 2012 e 358.197.748 em 2016).
- 250 mil euros foi o valor gasto, por dia, pelos portugueses apenas com este psicofármaco (antidepressores).
O artigo recorda que, este ano, a Organização Mundial de Saúde escolheu o tema “os jovens e a saúde mental num mundo em mudança“, uma vez que “é nesta fase da vida que aparecem metade das perturbações mentais e por ser estratégico a aposta na promoção da saúde mental e na prevenção”, pode ler-se.
Neste sentido, basta analisarmos os números da saúde mental em Portugal, para enquadrar de outro modo o apelo que nos é lançado por Francisco Miranda Rodrigues, Bastonário da Ordem Portuguesa dos Psicólogos. É imperioso, para todos nós, “fazer da prevenção em saúde mental uma prioridade sob pena de hipotecarmos o futuro das nossas crianças e jovens e de Portugal. Este repto não é apenas ao Governo, mas também às instituições sociais e comunitárias, às empresas e seguradoras. É com todos, somente com todos, que conseguiremos alterar o paradigma, promover as pessoas, prevenir a doença mental grave e acautelar o futuro de Portugal e o bem-estar dos portugueses”.
Para lerem o artigo completo, basta clicarem AQUI.
A melhor fase da nossa vida tem de ser aquela onde nos encontramos. O desafio é precisamente esse. Pensei neste tema enquanto olhava para o meu filho e pensava: é a melhor fase da vida dele. Ponderei vários motivos, entre eles a despreocupação de um menino de 3 anos, com a vida pela frente. Mas depois pensei: ainda assim, tem tantos desafios… Sim, se calhar a melhor fase é depois da adolescência, quando entramos na vida adulta, começamos a trabalhar e sentimos que vamos na direção de algo, que somos capazes! Depois pensei em mim: a imaturidade emocional era grande. Havia um grande sentido de responsabilidade, de ética e de funcionamento, mas a nível emocional ainda existia um mar para navegar.
Fiquei então na bruma. E ao refletir um pouco concluí algo que pode ser um cliché, mas que é algo que podemos desejar e procurar encontrar: a melhor fase da nossa vida tem de ser aquela onde nos encontramos. O desprendimento temporal a tempos antigos da nossa vida, leva-nos a acreditar, de uma forma algo ingénua, que lá para trás fomos muito felizes, apesar dos percalços. O negativo fica esbaforido na contagem do tempo ou, deturpadamente, fica numa forma ilusória como algo “que não foi tão mau assim”. A par disto, as coisas boas crescem, valorizam-se e, quais portugueses saudosos, olhamos para os eventos do nosso passado como os “melhores”, os mais “preenchidos”, os mais “felizes”.
Mas podem ser apenas ilusões. O desafio maior que temos nas nossas vidas não é sermos felizes, é estarmos na melhor fase das nossas vidas, precisamente no momento em que nos encontramos, com tudo o que isso traz. Sejam encontros ou desencontros. Pode parecer ilógico de algum ponto de vista, pois o ser humano não quer sofrer, mas na realidade, o passado não existe e o futuro ainda não se fez. Residem dentro de nós e podem ter um poder abissal e descontrolado. A grande aprendizagem é estar presente no momento em que nos situamos, conectados, aceitando o que surge. Essa aprendizagem é a vida!